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BAHIA – Com abatimento clandestino de carnes o estado tem problema na saúde pública, diz associação.

A grande maioria das carne destes animais é abatida de maneira clandestina. 

Maior produtora de rebanhos ovino e caprino do Brasil, a Bahia enfrenta “um grave problema de saúde pública”. Isto porque, segundo Roberis Silva, presidente da Associação Brasileira de Empresas do Agronegócio de Caprinos e Ovinos (Abreaco), 90% da carne destes animais é abatida de maneira clandestina.

De acordo com o dirigente, o estado segue a mesma média da região Nordeste, que apresenta realidade bem diferente do restante do Brasil – conforme estimativas do presidente, a média nacional é de 15%. Na visão dele, esta é uma realidade cultural fomentada, principalmente, pela negligência das vigilâncias sanitárias municipais, responsáveis por este tipo de fiscalização.

“A carne de caprino e ovino é muito comercializada no interior do Nordeste. Na capital existe, mas no interior é mais forte. É uma carne comercializada nas feiras livre. Com o tempo, a gente evoluiu, mas isso não”, lamenta, em entrevista.

“Os grandes culpados são as vigilâncias sanitárias dos municípios, principalmente nos grandes produtores e consumidores, como Feira de Santana, Vitória da Conquista, ou até mesmo Salvador. Cidades grandes que trazem do interior, mas sem a devida fiscalização. Já nas cidades pequenas, isso é praticamente usual”, acrescenta.

Por conta disto, Roberis explica que a associação, criada em 2019, vem discutindo com os Ministérios Públicos da Bahia e de Pernambuco, principais produtores da região, para se encontrar uma saída para esta realidade.

“Estamos propondo a agir com os órgãos para ajudar a encontrar uma solução. Não estamos nos queixando. É questão de saúde pública. Não há negociação quando o assunto é este. Mesmo assim, estamos nos propondo a discutir”, pontua.

O dirigente, que também é veterinário, explica que, com a falta de um abatimento realizado em frigoríficos, as carnes podem estar contaminadas com zoonoses ou outras doenças. “Em plena pandemia, isso é uma oportunidade e tanto para poder alertar os consumidores”, destaca.

VIGILÂNCIA

Segundo o presidente, a legislação para fiscalização de carnes estabelece que órgãos estaduais somente podem realizar a apreensão enquanto os produtos estiverem em trânsito. Caso os itens estejam armazenados, cabe ao município realizar a inspeção.

Segundo Roberis, por conta da clandestinidade, os frigoríficos trabalham de maneira ociosa.

“Nós não queremos só apreender. Nós queremos oferecer soluções. Em breve, vamos discutir com os órgãos de defesa e vigilância para mostrar esses caminhos. Quais são? Trazer parte dos animais para dentro dos frigoríficos. Estes locais operam com ociosidade”, diz, ressaltando que, diante deste quadro, a Abreaco estima que R$ 64 milhões deixem de girar na cadeia produtiva.

ESTIMATIVAS

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) supõe que, no Brasil, haja cerca de 31 milhões de animais dos rebanhos bovino e ovino. Destes, 20 milhões estão somente no Nordeste – 10 milhões apenas na Bahia.

Ao todo, por ano, são abatidos 3,2 milhões de animais. A Abreaco estima que, por conta dos números registrados no Nordeste, apenas 2% da carne seja abatida de forma legal.

Atualmente, a cidade de Casa Nova, no Sertão do São Francisco, é a maior produtora de carnes bovina e ovina. E, por conta disto, duas cidades apresentam consumo preocupante destes produtos: Juazeiro e Petrolina.

“O que acontece no Nordeste é muita interferência política. Acontece alguém ser apadrinhado, ter vistas grossas”, reclama Roberis.

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