Na semana da Marcha dos Prefeitos, em Brasília, a Bahia deve consolidar o protagonismo na chamada “causa municipalista”, em meio a um cabo de guerra envolvendo o governo federal e o Congresso Nacional. Após muita tensão, o acordo pela desoneração das folhas de municípios foi firmado e os prefeitos ganharam um fôlego no ano eleitoral, depois que a Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou uma ação que gerou a renoneração para diversos setores, inclusive para os Executivos municipais. E ao menos três baianos ganharam visibilidade no processo: os senadores Angelo Coronel e Jaques Wagner e o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Quinho, de Belo Campo.
A causa municipalista sempre imbuiu parlamentares baianos. No Senado, a primeira voz a ser ouvido sobre o tema, durante muito tempo, era a de Otto Alencar. Todavia, ao longo da tramitação do projeto de lei sobre a desoneração das folhas, coube ao correligionário levantar o tom. Ele foi relator do texto na Câmara Alta e, frequentemente, um crítico à forma como o governo federal tentava tratar o assunto. Coronel assumiu tal protagonismo trazendo o gancho dos municípios como a grande motivação para manter o que o Congresso havia aprovado, com redução da alíquota de contribuição para 8%. Em algumas situações, o baiano fez um confronto direto com interlocutores do Ministério da Fazenda e saiu como um “defensor dos prefeitos”.
Wagner, líder do governo, manteve-se com a habilidade de tentar encontrar um meio termo entre os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva e os setores atingidos. Agora, assume a relatoria do acordo, cuja insatisfação de Fernando Haddad foi sentida e noticiada. O ministro perdeu a disputa e se viu obrigado a recuar, mas Wagner vai mitigar os efeitos da dura negociação, numa tramitação célere, exatamente para aproveitar a ocasião da Marcha dos Prefeitos para que Lula lucre politicamente com o entendimento. Algo bem típico do Galego, como já estamos acostumados.
Foi nessa disputa dura com Haddad, inclusive, que surge o nome de Quinho como também protagonismo do processo. A troca de farpas gerou moções de apoio ao presidente da UPB depois que o ministro sugeriu que ele mentia sobre as conversas em torno do texto em discussão no Senado. O representante do “sindicato dos prefeitos da Bahia” conseguiu então engajar um discurso pró-municipalismo que contribuiu para que Haddad se tornasse menor no embate. Ganhou uma batalha contra um dos principais homens de Lula e controlador das chaves do cofre, algo essencial no arrocho das contas que ainda lidamos.
Para quem olha a grande fotografia desse processo, é possível observar o quão atores políticos da Bahia foram relevantes para a conquista de uma reoneração gradual dos setores atingidos pela matéria. Os prefeitos têm muito a agradecer, bem como os representantes dos outros setores beneficiados. Como esses baianos vão aproveitar o capital adquirido, todavia, ainda é uma resposta que o futuro vai dar. Wagner e Coronel podem tentar a reeleição em 2026. Quinho, até aqui, manifestou o interesse em governar uma cidade maior que Belo Campo para então crescer mais na política. Mas isso ficaria só para 2028. Ou seja, muita água vai rolar até lá.