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BAHIA – Estado quase fica de fora do reconhecimento do forró como patrimônio cultural

O forró foi declarado patrimônio cultural e imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A conquista é tratada como um feito solo por um motivo, foi fruto da dedicação da Associação Cultural Balaio do Nordeste, da Paraíba, presidida por Joana Alves e do Fórum Forró de Raiz, também coordenada por Joana, que por meio de uma reuniu ao longo dos anos, material o suficiente para provar a importância do gênero para a cultura brasileira e a assinatura de 423 forrozeiros de todo o país para formalizar o pedido.

Toda mobilização em torno do reconhecimento surpreendeu o próprio órgão. Segundo Alessandra Gramacho, coordenadora estadual do Fórum Forró de Raiz na Bahia, é de costume que a movimentação parta do próprio Instituto, mas desta vez, a voz do povo fez a força.

“O Iphan reconheceu isso por muitas vezes. Disseram que nunca viu um registro projeto de registro tão importante que não foram eles que comunicaram. Nós conseguimos gerar muito material. Muitos dos documentos que foram enviados ao Iphan para a documentação foram feito pela organização Respeita Januário, que ganhou a licitação para fazer a pesquisa. Na Bahia nós instituímos sete fóruns municipais, polarizamos o conhecimento. Foi um trabalho muito duro sem custo algum, sem nenhum recurso público nem apoio para a difusão desse conhecimento”, disse Alessandra.

Com forte participação no projeto para tornar o forró e seus subgêneros musicais entre eles, o xote, xaxado, baião, chamego, a quadrilha, o arrasta-pé e o pé-de-serra, patrimônio cultural do país, a Bahia por muito não ficou de fora de toda a história.

O motivo? A falta de apoio. Esta não é uma reclamação recente de quem vive a arte do forró. Em junho deste ano, Alessandra Gramacho falou sobre a dificuldade de manter a história viva em meio a pandemia e com mais um cancelamento de São João sem o apoio do governo. A ideia era promover o festival virtual para ajudar forrozeiros e continuar o debate que iria ajudar no processo de reconhecimento.

“A Bahia só está no dossiê do Iphan por conta dessas pesquisas de mapeamento que conseguimos fazer, de mestre, de história, de fazer cultural, composições, instrumentos e de como o forró existe na Bahia. Conseguimos fazer fóruns com o apoio do deputado federal Daniel Almeida, por meio da liberação da Emenda Parlamentar nº 13390003 endereçada ao Iphan possibilitou a realização dos debates”, relatou.

Segundo a coordenadora estadual do Fórum Forró de Raiz da Bahia, não houve direcionamento de recursos para levar forrozeiros do estado para participar da entrega do dossiê produzido ao longo dos onze anos para o reconhecimento do forró como patrimônio histórico.

“A Bahia praticamente não consegue ir para o encontro em João Pessoa, onde todo o Brasil e artistas do exterior irão se reunir, porque nós não recebemos nenhum apoio financeiro. Nós novamente não conseguimos reunião com o governo, nos foi negado pela Secretaria de Cultura mais uma vez um recurso mínimo para a delegação participar”.

O evento acontece em João Pessoa no dia 13 de dezembro, data que marca o aniversário de Luiz Gonzaga, e para estar presente no ato simbólico, foi necessário desembolsar a verba do próprio bolso.

“Nos viramos por conta própria, o Governo da Paraíba nos ofereceu hospedagem e alimentação e é dessa forma que a gente está indo. Apenas a Secretaria de Cultura de Santo Antônio de Jesus que ofereceu duas passagens aéreas para membros do Fórum, e o secretário de Cultura e Esporte de Irecê, Solon Barreto, que conseguiu uma van para uma delegação com 10 artistas saindo de lá”, contou.

Com o reconhecimento do forró e o status de patrimônio imaterial que o gênero ganha agora, forrozeiros de todo país temem que a conquista vire um troféu político, mas Alessandra ressalta:

“A campanha foi encabeçada por Joana Alves. Hoje essa comemoração só é possível pelo empenho de dona Joana Alves, que foi atrás e formou fórum em cada estado para ajudar na pesquisa e pelo empenho dos fóruns estaduais. Os políticos são apenas atores complementares. Teve uma homenagem ao forró em Brasília e Joana solicitou que chamassem representantes de outros estados, eles negaram e disseram que no máximo só ela. Ela se negou e disse que era pelo coletivo”.

A esperança de Alessandra com o reconhecimento do forró como patrimônio é que a partir de agora a arte seja valorizada como um todo e não apenas como uma peça comercial, como acontece no São João, tornando o evento algo sazonal.

Vislumbrando um cenário positivo, a coordenadora do Fórum na Bahia acredita que a declaração do Iphan pode render bons frutos para quem está ligado ao forró.

“O forró é um universo e uma arte. Ele está inserido na religiosidade com a participação na época junina e a tríade de santos, ele vem da zona rural e a gente traduz esse universo nas canções, no cordel, tá na viola do poeta repentista. É a forma que a gente mostra a nossa realidade, da cultura popular nordestina. Vai dos fazedores de licor, a quem produz a roupa das quadrilhas, quem monta as barracas do São João, é toda uma cadeia que vive essa história com a gente”.

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