POLÍTICA – Como pressão de Leão por candidatura ao governo pode ajudar plano de Rui Costa.
Em defesa da própria candidatura ao governo do estado, Leão tem levantado suspeitas sobre agir sozinho.
A elevação do tom do vice-governador, João Leão (PP), em defesa da própria candidatura ao governo do Estado tem levantando suspeitas sobre se ele age sozinho, pensando exclusivamente na aventura de concorrer à sucessão de Rui Costa (PT), ou se estaria sendo apoiado secretamente no grupo governista pelo próprio governador. Quando defende que o PT abra mão de indicar o senador Jaques Wagner à cabeça da chapa, em favor de um aliado como ele próprio, Leão está, na prática, forçando a barra para negociar sua ascensão ao cargo de governador por meio da renúncia de Rui Costa.
A mensagem não é explícita, mas assim a decodificam forças aliadas a Rui, porque tanto elas quanto Leão e o próprio governador sabem que o melhor candidato do grupo à sucessão estadual é o senador Jaques Wagner. Portanto, o plano do vice não passa de uma estratégia com objetivos indiretos ao que efetivamente indica. Leão deseja vender certa dificuldade para estabelecer uma negociação com o PT e os aliados que coloque sobre a mesa o projeto de se tornar governador do Estado por ao menos nove meses. Para isso, Rui, no entanto, teria que renunciar ao comando do governo.
E a renúncia só se justificaria se o governador decidisse, por exemplo, concorrer ao Senado, o que Rui deseja imensamente – embora não admita ainda -, assim como sua mulher, Aline Peixoto, e um grupo de assessores e auxiliares pequeno e que não apita nada politicamente. A operação seria tranquila se, com a decisão, o PT não se tornasse titular de duas das três vagas na chapa – para o governo, a vice e o Senado – e acabasse implodindo o sonho de um aliado importante, Otto Alencar (PSD), de se reeleger senador ao lado de Wagner.
Em outras palavras, trata-se de um plano que contenta principalmente a Leão e a Rui, mas alija Otto, que não aceita disputar de jeito nenhum a vice, gerando um problema político com o PSD do senador cujo resultado imediato é desarrumar o time que Wagner busca escalar para 2022. Rui tem, de fato, um estímulo visível para colocar, entre seus sonhos, a eleição ao Senado: é o fato de despontar como favorito à vaga entre todos os nomes lembrados até o momento, segundo as pesquisas de intenção de voto para 2022 divulgados até aqui.
Mas o incentivo está longe de ser o único, além de o mais importante, entre os avaliados pelo governador e sua pequena trupe próxima. O que Rui deseja, tal qual todo governador em fim de gestão, é se assenhorar de uma benesse que chegará junto com o eventual novo mandato legislativo: a famosa imunidade parlamentar. Foi isso que motivou Wagner a concorrer ao Senado, mostrando-se, inclusive, em curto espaço de tempo, iniciativa sábia e oportuna para ele. O problema é que ninguém abre a boca para falar que disputará um mandato por esta razão. Melhor deixar que, por vias indiretas, Leão cumpra essa papel.
Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.