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ECONOMIA : Governo vai elevar para 2,7% projeção de alta do PIB em 2022

Segundo os analistas, não há espaço para um crescimento tão robusto

O Ministério da Economia vai elevar a projeção oficial de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022 de 2% para 2,7%, de acordo com pessoas do governo ouvidas pela Folha. Para 2023, a estimativa deve ser mantida em alta de 2,5%.

O anúncio será feito nesta quinta-feira (15) —a menos de 20 dias do primeiro turno das eleições presidenciais—, na atualização dos números que embasam o relatório bimestral de receitas e despesas, cuja formulação é exigida pela legislação.

O potencial crescimento do PIB neste ano tem sido usado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) em tom de campanha em eventos com empresários. Reiteradas vezes, o chefe da pasta econômica disse que o Brasil “está condenado a crescer” e que o mercado financeiro tem subestimado o potencial do país.

Nesta quarta (14), em evento no Rio, Guedes voltou a dizer que a economia pode crescer perto de 3% neste ano.

“O que era uma previsão otimista para o ano inteiro, que era crescer 2%, já foi superada em seis meses”, exaltou o ministro em outro evento no início de setembro.

O maior otimismo do governo tem encontrado eco nas projeções dos economistas do setor privado —embora em menor grau. Segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira (12), o consenso do mercado para a atividade subiu de 2,26% para 2,39% —a 11ª revisão positiva consecutiva na pesquisa.

A projeção de 2,7% do governo vem na esteira do avanço do PIB no segundo trimestre, que foi impactado principalmente pelo setor de serviços e mostrou alta de 1,2% –percentual que surpreendeu positivamente os analistas.

Nos cálculos da SPE (Secretaria de Política Econômica), só o resultado da atividade econômica no primeiro semestre já seria suficiente para garantir um crescimento de 2,4% em 2022, devido ao chamado carrego estatístico. Trata-se do impacto positivo do desempenho de um período sobre os seguintes, assumindo que não haja avanço ou recessão no período subsequente.

Em coletiva no início do mês para comentar o resultado do PIB no segundo trimestre, o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos, Rogério Boueri, antecipou que a estimativa do PIB seria revisada para cima pelo governo.

“[O cálculo de] 2%zjá está datado, só o carrego já está em 2,4%, e a gente não acha que o Brasil vai parar de crescer”, disse.

No evento desta quarta, Guedes chegou a falar em uma herança dos trimestres anteriores de 2,6%. O número também já havia sido citado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no início do mês.

O carrego menor na conta do Ministério da Economia, segundo um membro da equipe, se deve a um fator técnico: o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calcula o resultado trimestral em uma série com ajuste sazonal (para descontar efeitos típicos de determinados períodos), que resulta na herança positiva maior, mas o dado anual é obtido a partir da série sem esse ajuste.

O governo começou o ano com uma previsão de crescimento do PIB de 2,1%, mas o dado acabou sendo revisado para 1,5% em março, diante dos temores de uma desaceleração mais intensa da economia depois da recuperação pós-Covid.

Após números positivos observados na produção industrial, no volume de serviços e na queda do desemprego, o Ministério da Economia subiu a projeção para 2% em julho e, agora, se prepara para nova elevação.

As projeções maiores são calculadas após uma série de medidas de impulso terem sido aprovadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL) em meio à corrida eleitoral.

Em julho, foi promulgada a emenda constitucional que liberou benefícios sociais turbinados à população, elevando o piso do Auxílio Brasil de R$ 400 a R$ 600, criando um auxílio a caminhoneiros de R$ 1.000 mensais e duplicando o valor do Auxílio Gás a R$ 110.

No início do ano, o governo já havia liberado um saque extraordinário de R$ 1.000 a trabalhadores com recursos no FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

Esse pacote de medidas ameniza os efeitos do aperto monetário promovido pelo BC, que levou a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% ao ano na última reunião, em agosto, e avaliará uma alta residual no encontro do Copom da semana que vem.

Desde o primeiro movimento, quando partiu de seu piso histórico (2% ao ano) em março de 2021, o ciclo de aperto acumula elevação de 11,75 pontos percentuais.

Na avaliação da equipe econômica, o aperto monetário implementado pelo BC para frear a inflação dificilmente terá efeito rápido e devastador sobre a atividade.

Com previsão de alta do PIB de 2,5% em 2023, a pasta reforça sua convicção no vigor da economia no próximo ano, em contraste com o pessimismo do mercado, que prevê avanço de 0,5% no ano que vem. Segundo os analistas, não há espaço para um crescimento tão robusto diante sobretudo dos efeitos defasados da política monetária e da esperada desaceleração global da economia.

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