BAHIA : Dois de Julho foi do povo e felizmente a política foi coadjuvante
Até houve uma divisão de atenções com os políticos de alta estirpe passando pela capital, mas o dia da Independência da Bahia foi o primeiro marco cívico da retomada após a pandemia e cumpriu bem seu papel
A festa cívica mais popular da Bahia teve seu caráter confirmado: o povo foi as ruas entre a Lapinha e a Praça Municipal saudar a passagem da Cabocla e do Caboclo. Até houve uma divisão de atenções com os políticos de alta estirpe passando pela capital, mas o dia da Independência da Bahia foi o primeiro marco cívico da retomada após a pandemia e cumpriu bem seu papel – agradou de bolsonaristas a lulistas, de João Roma a Jerônimo Rodrigues, passando por ACM Neto.
A passagem de Luiz Inácio Lula da Silva pelo cortejo foi acompanhada de uma multidão. Não precisava a assessoria ter postado a imagem com pessoas repetidas, pois só gerou palco para os adversários. Em um terreno favorável, o petista se sentiu em casa. Como se não bastasse o fervor desse momento curto, Lula ainda celebrou com cerca de 20 mil apoiadores na Arena Fonte Nova. Criou um ambiente típico onde os aliados só precisavam do mínimo de esforço para também ter holofotes. Nem todo mundo aproveitou, mas é certo que houve um impacto importante para a claque.
Ciro Gomes e Simone Tebet passariam despercebidos, mas deram a sorte de contar com um nível de complacência da imprensa. Eles tiveram espaço, poderiam até aproveitar as imagens, porém seria algo artificial. Ciro ainda tem a simpatia do grupo político do ex-prefeito de Salvador, o que já é um algo a mais nesse disputa narrativa. Já Tebet, coitada, nem o próprio MDB esteve ao seu lado. Coube ao Cidadania, um nanico que se acha grande, convencê-la a ganhar as ruas. Não passou inteiramente despercebida. Talvez no mesmo nível da candidata do PCB, Sofia Manzano.
Nesse contexto, ACM Neto e o prefeito Bruno Reis equacionaram bem seus esforços de protagonistas. Estiveram lado a lado e se desgarraram em alguns momentos. Um teste de popularidade que, segundo testemunhas, foi positivo para ambos. Ainda assim, o ex-prefeito não concentrou tanta atenção como teria, caso não tivesse que dividir os olhares da imprensa com tantos figurões. E também soube usar as oportunidades para provocar os adversários, mesmo que a própria claque do entorno tenha apresentado uma “onda azul” pelas vielas do centro antigo.
Outro que conseguiu lugar ao sol, ainda que distante da tradição do Dois de Julho, foi o presidente Jair Bolsonaro. Na motociata, ele e os aliados mostraram que é preciso não ignorar que há apoio, ainda que os índices de rejeição do governo estejam altos e as intenções de voto em baixa. Pelas ruas do lado “rico” da cidade, o presidente reinou – mesmo que os apoiadores queiram ser tratados como “povo”, na concepção clássica da palavra.
A presença de Lula e Bolsonaro ofuscou seus afilhados candidatos. Jerônimo e Roma talvez ganhassem mais espaço no noticiário político, com um maior protagonismo. Talvez seja essa a estratégia da dupla, já que os dois concentram nos padrinhos todo o esforço para subir nas pesquisas, o que, até aqui, tem acontecido de maneira tímida. Agora, quando a campanha realmente começar, junto com as convenções, todos vão ser instados a mostrarem para que vieram. O Dois de Julho foi um bom teste. Sem vaias, já há algo a se comemorar em todos os lados da disputa política.