POLÍTICA : Doria fora das eleições: PSDB agoniza em praça pública ‘matando seu candidato sem pudor’, analisa Vera Magalhães
Ex-governador de São Paulo deixou disputa pelas eleições presidenciais após desgaste com a ala do partido que apoiava a candidatura de Eduardo Leite. Saída de Doria ainda causou mais um racha no PSDB.
A semana começou com a desistência de João Doria da corrida presidencial. O ex-governador de São Paulo vinha enfrentando desgastes com a ala do partido que apoiava a candidatura de Eduardo Leite, a despeito do fato de Doria ter vencido as prévias do PSDB por 53,99% dos votos contra 44,66% do governador do Rio Grande do Sul.
Vera Magalhães, colunista do jornal “O Globo” e comentarista da rádio CBN, avalia que o partido se mostra “sem alma e sem caráter” ao atacar Doria, comprometendo suas chances de emplacar uma terceira via, em alternativa a Lula e Bolsonaro, nas eleições presidenciais.
“É um partido que realmente agoniza em praça pública, com muita dificuldade de ter um projeto para o país”, diz.
“Um partido que se lança em uma guerra fratricida como o PSDB se lançou – matando o seu candidato em praça pública e sem nenhum pudor – deixa de ser um partido que tem algo próximo a caráter”, analisa Vera Magalhães em entrevista ao podcast O Assunto.
Uma reunião da Comissão Executiva Nacional marcada para acontecer nesta terça-feira (24) foi adiada para 2 de junho. A expectativa era que fosse confirmado o apoio à Simone Tebet (MDB – MS) como pré-candidata a presidente da República.
Mas o PSDB precisa ganhar tempo diante de mais um racha no partido: os ex-presidentes do PSDB Aécio Neves, José Aníbal e Pimenta da Veiga, além do ex-governador Marconi Perillo, defendem um movimento de candidatura própria. Segundo o colunista Valdo Cruz, a ala deve defender a candidatura de Eduardo Leite.
Tucanos no vagão
Diante de mais uma disputa interna dentro do PSDB, Vera Magalhães aponta falta de coerência no discurso de Aécio:
“O que os tucanos estão tendo dificuldade é que eles não são mais a locomotiva. Eles estão como vagão, e não estão aceitando bem. Essa realidade ligada ao Aécio Neves está estrebuchando dizendo que tem que ter candidatura própria, como se não tivessem sido eles os primeiros a implodir a candidatura do João Doria.”
Para Magalhães, a dificuldade em fechar alianças também é reflexo da polarização entre Lula e Bolsonaro, que teria tirado “o apetite dos partidos por entrar de verdade nessa briga.”
“Para muitos, essa desistência do Doria foi a licença que alguns tucanos precisavam para cair no colo do Jair Bolsonaro de uma vez.”
Como fica o futuro político de Doria?
Fora da disputa presidencial e do governo de São Paulo, Doria segue no PSDB. Mas a previsão de Vera Magalhães em entrevista a Renata Lo Prete é a de que o tucano se recolher da vida política, pelo menos momentaneamente.
“Não vejo nele [Doria] nem o grande pendor de voltar atrás, ou seja, voltar a ser prefeito – algo que ele abandonou para ser governador. Também não vejo um perfil legislativo no João Doria. Ele é alguém muito do executivo, que gostava de se mostrar como gestor e não como político. Então não vejo um espaço no qual ele pudesse transitar dentro da política nesse momento”, avalia.